28 de março de 2024

Como a Atenção Primária à Saúde (APS) pode mudar o panorama da saúde suplementar no Brasil

Muito se fala em mudança do modelo assistencial. Entretanto, será que todos nós temos a mesma ideia de qual o melhor modelo? E mais, será que sabemos exatamente o que é modelo assistencial?

O modelo de atenção à saúde que hoje temos na saúde suplementar está sendo bastante questionado. Afinal, o modelo assistencial que atualmente vigora está voltado a tratar doença, e não cuidar da saúde.

Por exemplo, quando contratamos um plano de saúde, o que nos chama mais a atenção?

Para a maioria das pessoas que conheço, um plano de saúde bom é aquele que oferece em sua rede os melhores hospitais e os melhores especialistas, ou seja, que tenha uma rede de prestadores de serviços de saúde maior e melhor. Mas, será que isso é tratar a saúde? Com certeza não!

Tratar a doença ou Cuidar da saúde?

Ao identificarmos um problema de saúde, como uma dor na perna, a que especialidade médica recorremos? Ortopedista? Angiologista? Neurologista? Quem decide somos nós, mas será que fazemos a melhor escolha? Será que temos competência técnica para isso?

Bem, acredito que você respondeu essas questões e agora está pensando em qual seria a melhor resposta!

Com certeza não existe “melhor resposta”, pois o modelo de atenção à saúde hoje vigente nos permite escolher o médico que quisermos, desde que esteja em nosso plano. A livre escolha que hoje temos, em escolher o especialista que bem entendermos, é um direito que nós mesmos, inclusive, fazemos questão.

Até hoje, esse é o modelo de atenção que entendemos ser “o melhor”, mas que não está tendo os resultados adequados, nem para a sustentabilidade financeira das Operadoras, e tampouco para a qualidade e segurança dos clientes.

Então, qual seria o “melhor modelo”?

Esta é a resposta que o setor vem buscando dia após dia!

Atualmente, os especialistas chegaram à conclusão de que o melhor modelo é aquele que nos dá a certeza de que estamos cuidando da nossa saúde (e não tratando as doenças).

Assim, precisamos de alguém que nos oriente sobre qual especialista procurar no caso de algum problema de saúde e que, mesmo quando estamos saudáveis, precisamos nos cuidar para permanecermos saudáveis!

Mas será que um modelo assistencial assim é possível?

Como a Atenção Primária à Saúde (APS) pode ajudar a tornar isso possível

u sei que é difícil pensar em um modelo de atenção que atenda essas expectativas. Entretanto, se sairmos do plano das ideias, podemos encontrar formas de fazê-lo acontecer. E um dos caminhos para isso é a Atenção Primária à Saúde (APS).

Os fundamentos e conceitos relacionados à Atenção Primária à Saúde tiveram origem em 1978, numa conferência da Organização Mundial de Saúde, realizada em Alma Ata no Cazaquistão.  Nessa conferência, foi proposta a primeira definição sobre Atenção Primária à Saúde, sendo ela:

“cuidados essenciais à saúde, baseados em tecnologias acessíveis, que levam os serviços de saúde o mais próximo possível dos lugares de vida e trabalho das pessoas, constituindo assim, o primeiro nível de contato com o sistema nacional de saúde e o primeiro elemento de um processo contínuo de atenção” (ALMA-ATA, 1978)

Analisando essa definição e tudo que trabalhamos até aqui, podemos dizer que a APS é uma forma de organização que prioriza o cuidado à saúde, e não apenas tratativa das doenças. Assim, tem como objetivo atuar de forma preventiva, e não reativa, o que por si só tem impacto direto na sustentabilidade das instituições e na qualidade de vida das pessoas.

Por esse motivo, a APS (Atenção Primária à Saúde) é considerada a pedra fundamental do cuidado em saúde na experiência de muitos países. Ela é reconhecidamente a porta de entrada preferencial de acesso ao sistema de saúde, e promove adequado cuidado entre os outros níveis de atenção, como especialistas e hospitais, fundamentado nas necessidades de saúde e nos graus de complexidade de cada indivíduo.

Pilares da Atenção Primária à Saúde (APS)

Para que o modelo de Atenção Primária à Saúde funcione de forma adequada, alguns princípios devem ser observados. Tais princípios são considerados como os sete pilares de estruturação dos cuidados primários em saúde, e são reconhecidos por instituições nacionais e internacionais. São eles:

  1. Porta de entrada do sistema – primeiro contato, acolhimento do indivíduo;
  2. Longitudinalidade do cuidado – cuidado e acompanhamento da equipe de saúde ao longo da vida do indivíduo;
  3. Alta coordenação do cuidado – articulação e coordenação entre os diversos serviços de atenção à saúde de cada indivíduo;
  4. Integralidade do cuidado – integração dos serviços nos diversos níveis de atenção, preventivos, curativos, de reabilitação, individuais e coletivos, caso a caso;
  5. Heterogeneidade das demandas – cuidar de cada indivíduo nas suas particularidades e individualidades;
  6. Centralidade na família – coordenação, orientação, integração e informação aos cuidados familiares de cada paciente;
  7. Orientação ao paciente e a comunidade – informação e orientação sobre a saúde a todos os indivíduos e comunidade.

A Atenção Primária à Saúde e o reconhecimento da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar)

Conhecendo um pouco mais sobre o conceito de Atenção Primária à Saúde, e os benefícios que ela pode trazer no cuidado à saúde das pessoas, e não à doença, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) está promovendo a adoção do Modelo de Atenção a partir de um programa de certificação de Boas Práticas em Atenção à Saúde, começando exatamente pelo modelo de Atenção Primária!

E a ANS está fazendo isso por meio do Programa de Certificação de Boas Práticas em Atenção Primária à Saúde, que está apresentado na resolução normativa 440. Nos próximos artigos, vamos conhecer um pouco sobre a RN 440 da ANS, que trata desse programa e discutir item a item das melhores práticas que ele propõe. Até lá!

Rosangela Catunda

Rosangela Catunda

CEO da A4Quality Services, pioneira no Programa de Acreditação de Operadoras da ANS. Executiva com vasta experiência em avaliação de empresas, gestão de negócios, estratégia e benchmarking. Atuou como consultora em diversas empresas no Brasil e no exterior. Professora e doutora pela COPPE/UFRJ, tendo realizado pós-doutorado em transferência de tecnologia na Universidade do Texas.

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1 comentário

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  • Muito bom artigo, Rosângela. Claro e objetivo.
    Penso que o maior desafio é o de mostrar às empresas que esse investimento vale à pena e reduzirá o prêmio do plano de saúde dos funcionários dentre tantos outros benefícios.